Diferentemente do que a
maioria dos brasileiros pensa, a alta do dólar não prejudica somente os planos
de quem deseja fazer uma viagem para o exterior. A cotação da moeda
norte-americana tem impacto direto também no preço de produtos classificados
como básicos e que fazem parte do dia a dia da população — do pãozinho francês
até a TV da sua sala.
A escalada da moeda em
relação ao real começou em setembro do ano passado. No dia 5 daquele mês, a
divisa valia R$ 2,23. De lá pra cá, a moeda disparou quase R$ 1 e hoje custa R$
3,12 — depois de quadro quedas seguidas. Somente nos três primeiros meses de
2015, o dólar se valorizou 20%.
O presidente da ABBA
(Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Bebidas e Alimentos),
Adilson Carvalhal Junior, avalia que uma alta tão acentuada não era esperada e
ressalta que o mês de março foi “totalmente atípico”.
— Para nós, foi um
susto. O mercado não estava preparado com essa expectativa de que o dólar ia
chegar nesse nível. Então, as vendas deram uma freada e o mercado também freou.
Smartphones
Com a valorização do
dólar em relação ao real, os consumidores em busca de tablets e smartphones já
encontram preços mais salgados. O presidente da Abinee (Associação Brasileira
da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, afirma que os repasses
“dependem da realidade de cada empresa”.
— Enquanto era possível,
se segurou o aumento de preço, mas isso tem, evidentemente, um prazo. A partir
de agora, que já existe uma estabilização da moeda acima dos R$ 3, os repasses
estão sendo feitos.
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Barbato explica que os
produtos eletrônicos que fazem parte do dia a dia da população têm componentes
importados na maior parte da sua composição.
— Na ordem de 70% dos
componentes de um smartphone têm origem no exterior, desde o display até o
semicondutor, o chip, a memória e uma outra infinidade de peças. Isso acontece
porque o Brasil não é fabricante de componentes.
Pãozinho
O vice-presidente do
Sindipan (Sindicato das Indústrias da Panificação e Confeitaria de São Paulo),
Carlos Elias Gonçalves Perregil, a alta do dólar afeta diretamente a
panificação. Apesar de afirmar que as empresas têm segurado o repasse nos
preços, ele acredita que o impacto da valorização da moeda norte-americana já
chegou ao bolso dos consumidores.
— Enquanto havia
especulação e estoque antigo, se segurou [os preços]. Agora não tem mais. Hoje
acabou a especulação e a alta no valor do pão já é uma realidade.
De acordo com Perregil,
a variação de preços dos pães tem relação com a utilização de muitos produtos
importados para a composição das massas. O vice-presidente avalia que uma
estabilidade da moda dos EUA traria uma maior tranquilidade para o setor.
— O ruim é que você compra
hoje e no outro dia já está mais caro [...]. Se o dólar parar nos R$ 3,15 e se
estabelecer nesse preço, o pão também fica parado e conseguimos ter um valor
mais estável.
Alimentos e bebidas
Além do pãozinho, os
alimentos importados e aqueles que têm em sua composição itens originados no
exterior — tais como vinhos e peixes — já sofreram com a disparada da moeda
norte-americana nos últimos meses. Carvalhal, da ABBA, no entanto, afirma que
deve haver um repasse ainda maior no preço dos produtos.
— Os importadores
subiram a tabela de preço entre 10% e 15% no começo do ano, esperando um dólar
em torno de R$ 2,70 e R$ 2,90. Só que ninguém acreditava em uma alta tão
agressiva em março.
Na avaliação do
presidente, esse novo repasse no valor dos produtos ainda deve levar um tempo
por dois motivos: o fato das vendas estarem muito fracas e as pessoas muito
inseguras com o futuro da moeda.
Carvalhal cita ainda que
trocar os produtos importados pelos nacionais similares tem um impacto pequeno
no bolso do consumidor.
— De uma maneira geral,
você tem uma minoria de produtos que podem ser substituídos por um item
nacional, mas você tem também uma interferência do dólar na economia para
produtos locais que é muito grande.
Viagens
Ainda que não seja o
único setor afetado pelo encarecimento do dólar, o ramo de viagens para o
exterior deve enfraquecer nos próximos meses. Para o vice-presidente da ABAV-SP
(Associação Brasileira das Agências de Viagens de São Paulo), Edmar Bull, as
preocupações econômicas dos turistas acabam deixando o setor em alerta.
— Não é uma preocupação,
é uma cautela. A gente já sabia que este ano seria assim, mas a gente tem opção
para todos os orçamentos.
Bull, no entanto, avalia
que os turistas que estão indo rumo ao exterior com o dólar mais caro fecharam
os pacotes antes da disparada da moeda. Ele diz que uma mudança de hábito
poderia amenizar o impacto da alta da moeda no bolso dos brasileiros.
— O brasileiro não
viaja, ele muda. O negócio dele é compras. Então, ele tem que melhorar seu
orçamento para poder viajar. Tem promoção de hotel, promoção de pacote,
promoção de aéreas.
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