Entre tantas
tatuagens no braço direito do brasileiro Francesso Tessitore, duas chamam
atenção: o nome "US Marine", que demonstra devoção a um dos ramos das
Forças Armadas dos Estados Unidos, e um tributo ao maior franco-atirador da
história do país, Chris Kyle, conhecido por deixar 160 inimigos mortos em
operações de guerra.
A tatuagem
de caveira no corpo do militar é símbolo da história de Kyle, retratada no
filme "Sniper Americano" (2014). O brasileiro, inclusive, afirma ter
conhecido o atirador em Fallujah, cidade palco de um dos conflitos mais
sangrentos durante a Guerra do Iraque.
“Tive a
oportunidade de conhecer Chris Kyle, porque ‘limpávamos’ [varredura em busca de
inimigos e para proteção de civis] Fallujah e tínhamos que saber onde estavam
os snipers. Nós tivemos uma reunião e conheci ele, de bater um papo mesmo. Foi
bem no comecinho da carreira dele também”, afirma. A batalha em Fallujah foi a
primeira do atirador americano e é uma das principais cenas do longa-metragem,
vencedor do Oscar por melhor direção de som neste ano.
Segundo ele,
a homenagem ao "sniper" foi motivada pela importância do trabalho
dele para os militares americanos em campo de batalha. Kyle foi morto em 2013,
pelas mãos de um fuzileiro naval, quando estava em processo de recuperação do
período pós-guerra. “A morte dele nos afetou muito. Tivemos muitos amigos, às
vezes até eu mesmo, que foram salvos por ele”, lembra o brasileiro.
Trajetória
Apesar de
ter nascido em São Paulo, Tessitore passou a infância em São José e, desde
pequeno, tinha o sonho de servir às Forças Armadas dos EUA. No início da década
de 1990, ele deixou o Brasil para tentar se alistar no serviço militar
americano. Mais de 20 anos depois, acumula combates no Iraque e no Afeganistão
pelas tropas americanas. “Como você vai correr atrás dos seus sonhos sem
recursos para isso? O Brasil não me oferecia nada disso. Meu sonho era ser
Marine e ponto”, afirma.
Para
ingressar no US Marine, entretanto, ele conta ter passado por um processo
rigoroso. Vivendo nos Estados Unidos, Tessitore se casou com uma americana e se
alistou na infantaria do país, quando a legislação era menos rigorosa para o
ingresso de estrangeiros.
Seis anos
anos depois, ele renunciou à cidadania brasileira e adquiriu de vez a cidadania
americana, conseguindo assim, servir ao "US Marine". "Desde o
ataque terrorista às Torres em 2001, mudou muita coisa para o ingresso nas
Forças Armadas e as leis federais na área de imigração continuam mudando",
explica.
Emocional
De acordo
com Tessitore, os treinamentos intensos das Forças Armadas têm o objetivo de
eliminar o inimigo durante a guerra. Para ele, qualquer tipo de hesitação em
campo de batalha pode comprometer uma operação inteira. "Somos treinados
para matar. Estamos lá pelos nossos companheiros, para salvar a vida de quem
está do nosso lado. Depois nós fazemos a parte humanitária no local, mas o
inimigo está ali e temos que repeli-lo”, diz o militar.
Após deixar
os combates em 2013, o brasileiro enfrentou depressão, como muitos outros
americanos que serviram ao país. "No pós-guerra, você volta para casa e
fica desligado do mundo, não consegue sair para fazer uma compra porque fica
com medo. Descobri com ajuda que o medo que eu sentia era porque essa realidade
de vivenciar a guerra não era mais minha", afirma ele, que acabou se
separando da esposa durante o período.
Hoje, Tessitore
conta que faz parte do setor de operações sigilosas das Forças Armadas nos
Estados Unidos. Recentemente, voltou a São José dos Campos, onde se casou com
uma brasileira que se mudará com ele para os EUA nos próximos meses.
Mesmo
deixando os campos de batalha, as marcas da guerra seguem presentes no corpo
forte do militar. Entre a caveira em homenagem ao sniper e o nome do "US
Marine", está uma das mais significativas: o número 14 em algarismos
romanos, em referência ao total de companheiros que Tessitore perdeu na guerra.
Entre tantas batalhas vencidas, é justamente esta a derrota mais significativa
de Tessitore com as tropas americanas.
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