Senadora
adotou postura crítica ao governo desde que deixou ministério.
Ex-prefeita
de São Paulo ainda não divulgou em qual sigla irá se filiar.
A senadora
Marta Suplicy entregou na manhã desta terça-feira (28), ao diretório municipal
do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, sua carta de desfiliação à legenda
(leia a íntegra da carta ao final desta reportagem), informou a assessoria
petista.
A
parlamentar de São Paulo tem mantido contatos com PSB, PDT e PPS nos últimos
meses, mas ainda não anunciou para qual sigla deverá migrar.
Filiada ao
PT desde 1981, antes de se eleger para o Senado, Marta foi deputada federal e
prefeita de São Paulo. No segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, ela assumiu o Ministério do Turismo. Marta ficou na pasta até junho de
2008 e se afastou para concorrer à prefeitura de São Paulo, retornando ao
ministério na gestão Dilma Rousseff.
Marta adotou
uma postura crítica ao Executivo federal desde que deixou o primeiro escalão em
novembro do ano passado, pouco depois da reeleição da petista. Na carta na qual
pediu demissão do governo, ela fez críticas indiretas à condução da política
econômica no primeiro mandato da petista.
A relação da
senadora paulista com a presidente da República ficou conturbada, em 2014,
depois que Marta tentou articular nos bastidores a candidatura de Lula ao
Palácio do Planalto. Porém, a situação se desgastou de vez quando Dilma nomeou
Juca Ferreira para o comando do Ministério da Cultura.
Irritada com
a decisão, Marta desferiu duras críticas ao titular da Cultura em uma rede social
e enviou para a Controladoria-Geral da União um documento com denúncias
relacionadas à primeira gestão de Juca no ministério. Ele já havia ocupado a
pasta no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na carta de
desfiliação entregue nesta terça, a senadora paulista voltou a criticar a sigla
na qual militou nas últimas três décadas. No texto ela afirma que é de
“conhecimento público” que o PT tem sido o “protagonista de um dos maiores
escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimento.”
“Mesmo após
a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver a sua
direção nacional. No meu sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e
o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de
forma reiterada e persistente”, diz Marta no documento, ao citar que os crimes
investigados geram não só “indignação”, mas também um “grande constrangimento”.
'Isolada'
Em outro
trecho da carta de desfiliação, a senadora disse que foi "isolada e
estigmatizada" pela direção do PT ao criticar publicamente a legenda. Ela
ressaltou, contudo, que os princípios e o programa partidário do PT “nunca
foram tão renegados pela própria agremiação”. De acordo com Marta, a sigla se
distanciou “completamente” dos fundamentos que levaram à sua fundação.
“Ao tentar
empenhar-me numa linha de providências, fui isolada e estigmatizada pela
direção do partido. Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais
abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados dando mostras
reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, de resgatar o
programa para o qual foi criado, nem tampouco recompor os princípios perdidos”,
diz Marta na carta de desfiliação.
“A direção
do Partido dos Trabalhadores vem restringindo, cerceando e limitando a atuação
e desempenho de minhas atividades partidárias e, o que é mais grave, da minha
atividade parlamentar oriunda da representação política de meu mandato. [Os
fechamentos de espaços são muitos, com acontecimentos e constrangimentos
públicos que envolvem situações e ações que, no passado recente, chegaram ao
limite de colocar em risco minha eleição como Senadora pelo Estado de São Paulo
nas eleições de 2010”, continua a senadora.
Ao
justificar o pedido de deixar o PT, Marta Suplicy diz que tem se “furtado” de
discursar e emitir opiniões por se negar a “defender um partido que não mais me
representa. Situação sem sentido que não tenho mais condições de deixar
perdurar.”
“Até onde
pude, tentei reverter esta situação. Não fui ouvida. Não tenho compromisso com
os reiterados desvios programáticos e toda sorte de erros cometidos. Minha
atuação como Senadora não pode ser isolada. Todo parlamentar precisa de um
partido e o partido se expressa por meio de seus representantes eleitos”,
afirma a senadora.
'PT muda ou
acaba'
Em janeiro,
em uma entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Marta Suplicy
criticou a presidente da República e lideranças do partido e afimou que
"ou o PT muda ou acaba".
Na ocasião,
ela reconheceu que articulou, no ano passado, a candidatura de Lula no lugar da
de Dilma e qualificou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de
"inimigo".
Há duas
semanas, Marta deu parecer contrário a emendas que adiavam para o início de
2016 a entrada em vigor do projeto que renegocia dívidas dos estados e
municípios com a União. A iniciativa contrariou os interesses do Palácio do
Planalto, indo na contramão do esforço fiscal para reajustar as contas
públicas.
Leia abaixo
a íntegra da carta de desfiliação de Marta Suplicy:
"ILUSTRÍSSIMOS
SENHORES PRESIDENTES NACIONAL, ESTADUAL E MUNICIPAL DE SÃO PAULO DO PARTIDO DOS
TRABALHADORES - PT
Pedido de
desfiliação partidária
MARTA TERESA
SUPLICY, brasileira, nascida em 18/03/1945, filha de Luiz Affonso Smith de
Vasconcellos e Noêmia Smith de Vasconcellos, natural de São Paulo, portadora da
cédula de identidade RG nº 2.978.995-3, inscrita no CPF nº 699.158.908-00,
portadora do Título de Eleitor nº 865.308.401-41, inscrita na Zona Eleitoral nº
251, Secção 0115, vem, por meio desta, requerer a sua DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT, pelos motivos e razões que passa a apresentar.
É de
conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de
um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou,
sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos
episódios a envolver a sua direção nacional.
No meu
sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e o programa partidário do
PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e
persistente.
Para mim,
como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que
são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo
de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento.
Aqueles que,
como eu, acreditaram nos propósitos éticos de sua carta de princípios,
consolidados em seu programa e em suas resoluções partidárias, não têm como
conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável
conivência.
Ao tentar
empenhar-me numa linha de providências, fui isolada e estigmatizada pela
direção do partido. Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais
abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados dando mostras
reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, de resgatar o
programa para o qual foi criado, nem tampouco recompor os princípios perdidos.
Hoje o PT se
distanciou completamente dos fundamentos que há 35 anos nos levaram a
construí-lo com entusiasmo e envolvimento.
Por décadas,
acreditei e dei o melhor de mim na perseguição de ideais que, com seus acertos
e erros, não se distanciavam de um norte ético indiscutível e intransigente.
Hoje, entretanto,
não me sinto mais em condições de cooperar com o que não faz mais sentido a mim
e a milhões de brasileiros.
A direção do
Partido dos Trabalhadores vem restringindo, cerceando e limitando a atuação e
desempenho de minhas atividades partidárias e, o que é mais grave, da minha
atividade parlamentar oriunda da representação política de meu mandato.
Os
fechamentos de espaços são muitos, com acontecimentos e constrangimentos
públicos que envolvem situações e ações que, no passado recente, chegaram ao
limite de colocar em risco minha eleição como Senadora pelo Estado de São Paulo
nas eleições de 2010.
Vivencio o
mais difícil e o pior momento de minha vida política. Como membro do PT,
encontro-me em situação absolutamente constrangedora na bancada e no Plenário
do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a
defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de
brasileiros que nele um dia acreditaram. Situação sem sentido que não tenho
mais condições de deixar perdurar.
Serei fiel
ao meu mandato e permanecerei depositária dos valores defendidos por aqueles
que votaram em mim, hipotecaram sua confiança pessoal, e abraçaram as ideias
que defendo desde a época em que me tornei pessoa pública em programa diário de
TV onde sempre me pautei por princípios éticos inegociáveis.
Até onde
pude, tentei reverter esta situação. Não fui ouvida. Não tenho compromisso com
os reiterados desvios programáticos e toda sorte de erros cometidos.
Minha
atuação como Senadora não pode ser isolada. Todo parlamentar precisa de um
partido e o partido se expressa por meio de seus representantes eleitos.
Para quem é
mandatária, como sou, eleita legitimamente por mais de 8 milhões de votos,
resta-me a certeza de que minha prioridade é a fidelidade ao mandato que me foi
outorgado pelo povo do Estado de São Paulo.
Como o
exercício de meu mandato vem sendo claramente cerceado, em seu nome e em sua
defesa, como representante popular, sinto-me na responsabilidade e no dever de
agir neste sentido.
Diante do
exposto, é a presente petição para REQUERER A MINHA DESFILIAÇÃO DO PARTIDO DOS
TRABALHADORES - PT, a partir desta data.
São Paulo,
terça-feira, 28 de abril de 2015.
MARTA TERESA
SUPLICY"
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