terça-feira, 28 de abril de 2015

'Não consegue bater asas até aqui', diz morador de Marsilac sobre dengue


Distrito fica a cerca de 60 km do Centro e tem baixa densidade demográfica.
Além do bom humor, prevenção é palavra de ordem entre os moradores.
O distrito de Engenheiro Marsilac, no extremo da Zona Sul de São Paulo, não teve nenhum caso de dengue registrado até o mais recente balanço da Prefeitura neste ano. Com a menor densidade demográfica da cidade, a região tem um desempenho de fazer inveja até na vizinha Parelheiros, onde 29 casos da doença foram notificados em 2015.
A realidade de Marsilac, que tem 41 habitantes por quilômetro quadrado, também destoa da enfrentada por bairros da Zona Norte, como Brasilândia e Freguesia do Ó, que concentram maior número de casos de dengue no município. A Brasilândia tem 12,6 mil habitantes por quilômetro quadrado teve 2.384 casos e a Freguesia do Ó com 13,5 mil teve 447 casos. Segundo especialistas, o ambiente urbano e a alta concentração populacional contribuem para a propagação da doença.
No estado de São Paulo, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) já registrou 222.044 casos até 22 de abril, número considerado o maior desde o início da série, em 1987. O número total é a soma de pessoas que contraíram a doença em municípios do estado (casos autóctones), e das pessoas que residem em cidades paulistas mas contraíram em outros estados (casos importados).
Em Marsilac, que fica a cerca de 70 km do Centro de São Paulo, visitantes vindos de outros bairros da cidade costumam temer que os mosquitos comuns na região sejam transmissores da doença, como conta Washington José da Silva, 49 anos, dono de um mercadinho. “Aqui tem muito pernilongo, mutuca, mas mosquito da dengue a gente não tem notícia, não. Acho que ele não consegue bater as asinhas até aqui porque é muito longe”, brinca.
A propagação da doença tem impulsionado as vendas de repelentes no distrito. “Tenho vendido uns 30 por mês, mas quem compra mesmo é o pessoal de fora. Quem mora aqui compra inseticida mesmo para matar pernilongo, mutuca. E agora está esfriando mais e o mosquito não gosta”, afirmou.
Situado no Extremo Sul do município, a divisa de Engenheiro Marsilac está há cerca de 10 quilômetros do mar. De um mirante situado no Parque Estadual da Serra do Mar é possível avistar Itanhaém. Situada em área de mananciais, onde estão nascentes de córregos que abastecem a Guarapiranga e a Billings, conta com vegetação exuberante e presença constante de bromélias.
Os moradores, no entanto, estão em alerta para evitar a chegada do mosquito. O comerciante Bernardo Augusto Domingues, de 75 anos, conta que toma cuidado para que o mosquito da dengue não se instale no bairro. “Graças a Deus esse mosquito da dengue não chegou em Marsilac porque com o tanto de bromélias que a gente tem aqui não tem como segurar. Esse posto de saúde não ia dar conta. O negócio ia ser feio”, afirmou, enquanto mostrava as plantas que retém muita água das chuvas nas folhas.
Domingues, que repara pneus e bicicletas, diz usar carbureto, que utiliza no seu trabalho, nos locais onde possa juntar água. “Eu jogo cândida nos pneus e onde tem água para não aparecer mosquito da dengue. Eu também coloco carbureto. Mata tudinho. Pode ver que não tem nada”, garante.
Moradora do bairro há 33 anos, Maria Isabela Alonso, de 57 anos, tem um amplo quintal florido, mas não deixa pratinhos embaixo das plantas. A caneleta por onde a água da chuva escorre não empossa, que poderia facilitar a multiplicação do mosquito. “Tem que ter consciência, não pode descuidar. Estou atenta. Eu vejo que os meus vizinhos também têm tomado cuidado também”, conta. Os pneus coloridos ficam cheios de terra e servem de vaso.

Com 8,2 mil habitantes, Marsilac não conta com o sistema de abastecimento de água da Sabesp. Por isso, as casas recorrem aos poços artesianos. Cuidadosos, moradores dizem terem o hábito de mantê-los sempre tampados. A Unidade Básica de Saúde (UBS) de Marsilac distribui hipoclorito de sódio. A solução é utilizada normalmente para higienização de verduras e frutas. No bairro, ela também é utilizada pelos moradores para tratar a água.
Julia Maria Leite, 61 anos, está entre os moradores que retiram a solução periodicamente. “Eu abro o frasco e jogo todinho no poço. Na minha casa tudo é tampado: o reservatório com a água para lavar roupa, a caixa d´água, o poço. Vaso eu nem tenho em casa. Tenho só umas plantinhas para dar um ‘tcham’ na entrada da casa. Fico contente de saber que não temos casos de dengue”, afirmou. 

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