Promotores
pediram prisão de César Ponce de Leon, ex-diretor da Alstom.
Ele é
estrangeiro e não foi localizado durante as etapas de investigação.
O Ministério
Público de São Paulo (MP-SP) informou nesta sexta-feira (24) ter pedido à
Justiça a prisão preventiva do executivo César Ponce de Leon. Ele participou da
direção da multinacional francesa Alstom Transport durante período no qual é
investigada a prática de cartel em contratos com a Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM).
A empresa
informou que não vai se manifestar sobre o pedido do Ministério Público.
No pedido,
os promotores pedem a inclusão de Leon na lista de procurados da Interpol. Eles
citam que ele é estrangeiro e não foi localizado durante as investigações.
O MP
informou ter feito o pedido de prisão preventiva em 10 de abril, juntamente com
a denúncia oferecida à Justiça contra 11 executivos de empresas do setor
ferroviário e um funcionário da CPTM por formação de cartel em três contratos
firmados entre 2007 e 2008.
De acordo com
a denúncia, eles combinavam as propostas que apresentariam nas concorrências
públicas e direcionavam os vencedores de cada licitação. Os contratos
investigados eram para o fornecimento de trens e materiais ferroviários na
execução de três projetos da CPTM nas linhas 9-Esmeralda e 10-Turquesa.
Segundo a
denúncia, as empresas “dividiram o mercado e o preço final superfaturado,
direcionando cada licitação e sabendo previamente qual empresa seria a
vencedora de cada um dos contratos e quais os preços de cada uma".
Os
promotores dizem que o direcionamento fazia com que as empresas elaborassem
propostas "a preços superiores ou simplesmente não participassem da
concorrência na referida licitação, deixando de oferecer proposta.” Depois, a
vencedora subcontratava as demais participantes do cartel.
Foram
denunciados:
- César
Ponce de Leon, Luiz Fernando Ferrari e Ruy Grieco, executivos da Alstom;
- José
Manuel Uribe Regueiro, da CAF Brasil;
- Carlos
Levy, executivo da Bombardier Transportation Brasil Ltda/DaimlerChryler Rail
Systems (Brasil) Ltda.;
- David
Lopes, Mauricio Memoria e Wilson Daré, executivos da Temoinsa do Brasil Ltda.;
- Manuel
Carlos do Rio Filho e Telmo Giolito Porto, da Tejofran – Empresa Tejofran de
Saneamento e Serviços Ltda;
- Massimo
Giavina-Bianchi, da T'Trans – Trans Sistemas de Transportes S/A;
- Reynaldo
Rangel Dinamarco, que, na época dos contratos, era presidente da comissão de
licitações da CPTM.
A
investigação foi baseada em documentos encaminhados pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que também investiga a formação de
cartel em concorrências no Metrô e na CPTM. As fraudes teriam ocorrido entre
1998 e 2008, em governos do PSDB.
Posicionamentos
A CPTM
afirmou que vai abrir sindicância para apurar possíveis irregularidades
cometidas por Reynaldo Rangel Dinamarco durante o exercício de suas funções na
companhia. "O Governo do Estado de São Paulo é o maior interessado em
apurar os fatos e exigir ressarcimento aos cofres públicos", diz a nota da
companhia.
A Tejofran
diz que "não foi notificada da denúncia, mas reitera que participou de
consórcios conforme permitido pela legislação. A empresa obedeceu exatamente as
disposições do edital e realizou todos os serviços previstos em contrato, com
preços competitivos."
"Esclarece
ainda que se trata da mesma matéria que tramita no Cade, para a qual a empresa
já apresentou defesa, ainda não julgada. E, conforme sua postura de seguir os
mais rigorosos padrões éticos, se coloca à disposição das autoridades para
todos os esclarecimentos necessários", afirma em nota.
Em nota, a
Bombardier disse reiterar "que sempre operou segundo os mais altos padrões
de ética corporativa no Brasil e em todos os países onde está presente".
A assessoria
da Bombardier acrescentou que o funcionário investigado não trabalha na empresa
há quatro anos.
A CAF, que
também se pronunciou em nota, disse que “respeita o trabalho do Ministério
Público do Estado de São Paulo e nega taxativamente as acusações imputadas a
seu executivo. A empresa reitera ainda que tem colaborado com as autoridades no
fornecimento de todas as informações solicitadas”.
Em nota, a
Alstom afirma que "respeita as leis brasileiras e as regras dos editais
das licitações de que participa e não se manifestará sobre a denúncia
mencionada".
Outras
denúncias
A Justiça
aceitou em março uma outra denúncia do Ministério Público e iniciou uma nova
ação contra 11 empresas acusadas de formar um cartel para obter contratos da
CPTM.
Este é o
segundo processo aberto pela Justiça neste ano por causa do cartel - no primeiro,
de janeiro, 15 empresas foram acionadas em uma ação indenizatória aberta pela
Procuradoria Geral do Estado (PGE).
Entenda o
caso
A
investigação de irregularidades nas licitações dos trens do Metrô e da CPTM
começou a partir de um acordo de leniência (ajuda nas investigações) feito em
2013 entre umas das empresas acusadas de participar do suposto cartel, a
Siemens, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão ligado
ao Ministério da Justiça.
O
desdobramento das investigações mostrou, no entanto, que o esquema poderia
estar funcionando muito antes da denúncia feita pela Siemens. O suposto
pagamento de propinas a governos no Brasil pela empresa Alstom teria tido
início em 1997, segundo apuração iniciada pela Justiça da Suíça.
Em 2008, o
jornal norte-americano "The Wall Street Journal" revelou
investigações em 11 países contra a Alstom por pagamento de propinas entre 1998
e 2003. As suspeitas atingiam obras do Metrô e funcionários públicos. Foi neste
ano que o Ministério Público de São Paulo entrou no caso, pedindo informações à
Suíça e instaurando seu próprio inquérito.
Também em
2008 um funcionário da Siemens denunciou práticas ilegais no Brasil à sede
alemã, dando detalhes do pagamento de propina em projetos do Metrô, CPTM de SP
e Metrô DF. Em 2013, a Alstom recebeu multa milionária na Suíça e um de seus
vice-presidentes acabou preso nos Estados Unidos.
No Brasil, a
Siemens decidiu então fazer a denúncia ao Cade delatando a existência do
cartel. Em dezembro, a ação chegou ao Supremo Tribunal Federal. A investigação
se ampliou e mostrou que o esquema poderia ser bem mais amplo do que se
imaginava.
Em 2014, o
Cade ampliou o processo e passou a investigar licitações (de 1998 a 2013) em
mais locais, além São Paulo e Distrito Federal. Entraram também nas apurações
Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
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