sábado, 18 de abril de 2015

'Era fácil', diz delator sobre repasse de propinas a diretores da Petrobras


Vice-presidente da Camargo Corrêa cita 'má qualidade dos contratos'.
Ele diz que erros de cálculo nos orçamentos facilitavam o esquema.
O vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite, afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que "era fácil" inserir o valor das propinas pagas a diretores da Petrobras nos contratos firmados entre as duas empresas. O depoimento faz parte do acordo de delação premiada firmado pelo executivo, divulgado na sexta-feira (17).
"Era fácil, porque, em primeiro lugar, os volumes dos contratos junto à Petrobras eram significativos, de muitos milhões ou bilhões de reais", disse o vice-presidente em depoimento.
Além disso, Leite afirmou que a inclusão da propina nas propostas apresentadas pela empreiteira para licitações era possível "por conta da má qualidade dos contratos" da Petrobras. Isso gerava discussões de sobrecustos que as obras exigiriam, nos quais eram incluídos os valores de propina.
Conforme o delator, a estatal aceitava variação de até 20% a mais no valor previsto para a realização das obras. Desta forma, o 1% que era destinado à propina se tornava "insignificante".
Este percentual de 1% do valor contratado destinado à propina, de acordo com o depoimento, valia tanto para a Diretoria de Abastecimento como para a Diretoria de Serviços. Eles eram descritos nos documentos oficiais como reservas para riscos financeiros, como variação de preços dos materiais, atrasos de pagamentos ou possíveis greves.
Eduardo Leite exemplificou que, se o custo de certo equipamento era de R$ 1 mil, seria previsto um adicional de 1% referente aos riscos financeiros citados. Isso elevaria o orçamento para R$ 1.010, e era deste adicional que o valor da propina era retirado.
Prevenção
Questionado pela Polícia Federal sobre o que poderia ser feito no aspecto preventivo, para evitar essas possibilidades, Eduardo Leite disse que a precisão orçamentária deveria ser aumentada, além da elaboração de projetos de engenharia mais detalhados.
Ele justificou dizendo que um projeto mais bem detalhado evitaria as discussões sobre aumentos de custos das obras, de onde saíam os recursos de propina. Conforme Leite, os projetos da Petrobras eram mal contratados, tinham curto tempo de execução de projetos, e havia "afobação" para contratar antes que os projetos ficassem prontos.
O vice-presidente da empreiteira afirmou acreditar que os erros não eram intencionais por parte da estatal. Para ele, o processo de contratação de empreiteiras era apenas "mal feito".
Montante
Segundo Leite, a Camargo Corrêa pagou R$ 110 milhões em propinas para abastecer o esquema de corrupção. Do total, R$ 63 milhões foram destinados para a área de Serviços da Petrobras, comandada à época por Renato Duque e Pedro Barusco, e outros R$ 47 milhões foram para a Diretoria de Abastecimento, comandada por Paulo Roberto Costa.
Ainda de acordo com o vice-presidente da empresa, os pagamentos se faziam necessários porque a Camargo Corrêa corria o risco de não receber os valores contratados com a Petrobras ou mesmo quantias de contratos aditivos que fossem realmente necessários.

O advogado de Eduardo Leite foi procurado pela reportagem, mas informou que não vai se manifestar sobre as declarações que seu cliente deu ao MPF.

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