Vice-presidente
da Camargo Corrêa cita 'má qualidade dos contratos'.
Ele diz que
erros de cálculo nos orçamentos facilitavam o esquema.
O
vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite, afirmou
ao Ministério Público Federal (MPF) que "era fácil" inserir o valor
das propinas pagas a diretores da Petrobras nos contratos firmados entre as
duas empresas. O depoimento faz parte do acordo de delação premiada firmado
pelo executivo, divulgado na sexta-feira (17).
"Era
fácil, porque, em primeiro lugar, os volumes dos contratos junto à Petrobras
eram significativos, de muitos milhões ou bilhões de reais", disse o
vice-presidente em depoimento.
Além disso,
Leite afirmou que a inclusão da propina nas propostas apresentadas pela
empreiteira para licitações era possível "por conta da má qualidade dos
contratos" da Petrobras. Isso gerava discussões de sobrecustos que as
obras exigiriam, nos quais eram incluídos os valores de propina.
Conforme o
delator, a estatal aceitava variação de até 20% a mais no valor previsto para a
realização das obras. Desta forma, o 1% que era destinado à propina se tornava
"insignificante".
Este
percentual de 1% do valor contratado destinado à propina, de acordo com o
depoimento, valia tanto para a Diretoria de Abastecimento como para a Diretoria
de Serviços. Eles eram descritos nos documentos oficiais como reservas para
riscos financeiros, como variação de preços dos materiais, atrasos de
pagamentos ou possíveis greves.
Eduardo
Leite exemplificou que, se o custo de certo equipamento era de R$ 1 mil, seria
previsto um adicional de 1% referente aos riscos financeiros citados. Isso
elevaria o orçamento para R$ 1.010, e era deste adicional que o valor da
propina era retirado.
Prevenção
Questionado
pela Polícia Federal sobre o que poderia ser feito no aspecto preventivo, para
evitar essas possibilidades, Eduardo Leite disse que a precisão orçamentária
deveria ser aumentada, além da elaboração de projetos de engenharia mais
detalhados.
Ele
justificou dizendo que um projeto mais bem detalhado evitaria as discussões
sobre aumentos de custos das obras, de onde saíam os recursos de propina.
Conforme Leite, os projetos da Petrobras eram mal contratados, tinham curto
tempo de execução de projetos, e havia "afobação" para contratar
antes que os projetos ficassem prontos.
O
vice-presidente da empreiteira afirmou acreditar que os erros não eram
intencionais por parte da estatal. Para ele, o processo de contratação de
empreiteiras era apenas "mal feito".
Montante
Segundo
Leite, a Camargo Corrêa pagou R$ 110 milhões em propinas para abastecer o
esquema de corrupção. Do total, R$ 63 milhões foram destinados para a área de
Serviços da Petrobras, comandada à época por Renato Duque e Pedro Barusco, e
outros R$ 47 milhões foram para a Diretoria de Abastecimento, comandada por
Paulo Roberto Costa.
Ainda de
acordo com o vice-presidente da empresa, os pagamentos se faziam necessários
porque a Camargo Corrêa corria o risco de não receber os valores contratados
com a Petrobras ou mesmo quantias de contratos aditivos que fossem realmente
necessários.
O advogado
de Eduardo Leite foi procurado pela reportagem, mas informou que não vai se
manifestar sobre as declarações que seu cliente deu ao MPF.
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