O
policial militar suspeito de ter efetuado o disparo que matou o menino Eduardo
de Jesus, de 10 anos, no conjunto de favelas do Alemão no dia 2 deste mês, deve
prestar depoimento somente depois de receber liberação médica. “Pelo meu cliente, ele já teria comparecido à
delegacia, mas eu avisei que ele pode ser punido pela tentente-coronel. Se a
médica liberar, ele vai imediatamente fazer isso”, explicou o advogado Rafael
Abreu Calheiros nesta sexta-feira (10), destacando que na quinta (9) esteve na
Divisão de Homicídios da Capital (DH) para entregar o atestado médico do
policial.
O
policial teria ficado abalado emocionalmente depois de ter efetuado o disparo.
A dispensa médica do PM termina na segunda-feira (13). Ainda segundo Calheiros,
os quatro PMs da UPP que estavam no dia da operação prestaram depoimento no dia
da morte do menino Eduardo. Desses, três já prestaram o segundo depoimento e
apenas esse soldado, um dos dois eu admitiu ter efetuado disparo de fuzil,
ainda não foi ouvido novamente.
Entrevista
com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino
Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante
operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio
Segundo
o delegado Rivaldo Barbosa, o depoimento do policial não é determinante para
elucidação do caso. "A investigação não se resume apenas ao depoimento de
um policial", disse, ressaltando a coleta de outros depoimentos e provas
materiais do crime. Outros 4 policiais militares envolvidos na ação também
devem ser ouvidos, além da família e de outros moradores da região.
Um dos
familiares do garoto que serão ouvidos novamente é uma irmã que, segundo o
delegado, teria presenciado o momento em que Eduardo foi baleado.
"Ele
tinha duas irmãs. A menina, de 14 anos, deve ser ouvida novamente, assim como a
mãe. Dentro dos nossos protocolos, os familiares diretamente envolvidos com a
vítima só prestam depoimentos depois do enterro. Mas neste caso, os pais
enterraram o filho em outro estado. Estamos aguardando o regresso deles para
que possamos ouvir todo mundo de uma forma mais equilibrada, com os ânimos
restabelecidos", afirmou o delegado.
PMs do
caso Elizabeth
Compareceram
na DH nesta quinta para depor três PMs envolvidos na ação que terminou com a
morte de Elizabeth de Moura Francisco, de 49 anos, baleada um dia antes de
Eduardo, também no Alemão. Dois deles estão participando de um curso de
reciclagem e o terceiro está de férias.
Segundo
a delegada Patrícia Aguiar, responsável pela investigação sobre a morte da
mulher, ao deporem pela primeira vez, ainda na 45ª DP, os policiais defenderam
a tese de que entraram em confronto com criminosos no dia em que Elizabeth e a
filha foram baleadas dentro de casa.
“No
primeiro depoimento, eles afirmaram não ter envolvimento na morte dela. Mas
afirmaram que trocaram tiros com criminosos, revidando uma agressão", contou a delegada.
Reconstituições
Rivaldo
Barbosa adiantou que as reconstituições do caso Eduardo, da morte de Elizabeth
e do caso Wanderson. "A data ainda não foi definida porque dependemos dos
depoimentos e de algumas variáveis da logística da Divisão de Homicídios",
afirmou o delegado.
O
delegado Rivaldo pediu que possíveis testemunhas dos três casos procurem a
Polícia Civil para ajudar a elucidar os crimes. "Queria conclamar a
comunidade para que, se alguém viu alguma coisa, nos procure na divisão de
Homicídios ou nas delegacias para que possamos esclarecer o mais rápido
possível este caso."
Tropa
no Alemão será reorganizada
O
comandante-geral da PM, tenente-coronel Pinheiro Neto, deu mais detalhes sobre
o processo de mudança no policiamento do Conjunto de Favelas do Alemão,
anunciado no último domingo pelo governador Luiz Fernando Pezão. Neto afirmou
que a região não terá uma reentrada de tropas, e sim passará por uma
reorganização e restruturação de seus homens. A informação foi passada para a
imprensa em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (9), no Centro do
Rio.
A
redistribuição já começou com o uso de forças especiais Bope, Batalhão de
Choque e Batalhão de Ação com cães e os agentes de UPPs serão realocados para
pontos mais protegidos e fortificados. O processo de reorganização começou nas
localidades cobertas pelas UPPs Fazendinha, Nova Brasília e Alemão.
O termo
reocupação foi usado pelo governador Luiz Fernando Pezão, em entrevista ao
Fantástico. Segundo Pinheiro Neto, porém, o que vai acontecer é uma
redistribuição das tropas nas áreas mais conflagradas do Conjunto de Favelas,
na Zona Norte do Rio.
Problemas
pontuais, diz Pinheiro Neto
"Os
conflitos aumentaram consideravelmente nessas comunidades. Precisamos entender
o que está acontecendo. Mas isso não acontece em todas as UPPs, são problemas
pontuais. A maioria absoluta da população quer a policia nessas áreas",
afirmou o Pinheiro Neto. As instalações, segundo o comando da corporação,
também serão fortificadas através da construção de bases permanentes.
Segundo
ele, as comunidades Nova Brasília, Morro do Alemão e Fazendinha são focos de
"turbulência" no projeto das policias pacificadoras, e terão reforço
de segurança e treinamento dos policiais dessas unidades.
"Esses
policiais estão sendo treinados em etapas, em turmas de 60 policiais, com
treinamentos de auto proteção e avaliações psicológicas para todos eles, alem
de cursos como gestao do erro, já que policiais são humanos e também
erram", explicou. As turmas já começaram no morro do Alemão, onde o menino
Eduardo, de 10 anos, foi atingido por um tiro de fuzil, e ja na semana passada
na Nova Brasília.
Homens
do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Especiais, do Comando de
Operações Especiais e do Batalhão de Ações com Cães reforçam a segurança na
região. Segundo René Alonso, comandante do COE, a situação no conjunto se
acalmou desde as mortes da última semana. "Desde a quinta feira, não houve
confrontos na região e a resposta da população foi positiva", afirmou.
A
relação dos policiais com os moradores em áreas de UPP também foi alvo de
avaliação da PM. O coronel Robson Rodrigues admitiu que, se a população e os
policiais sentem medo, perde-se a essência da pacificação:
"Precisamos
mudar, criar mais solidariedade com a população", afirmou o coronel
Robson. "E esse medo é ruim para todos, inclusive para o policial, que às
vezes reage da pior forma", lamentou.
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