quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mãe adota criança trocada pelo filho na maternidade: 'Me apaixonei'


Justiça permitiu que mulher ficasse com o filho biológico e o trocado.
Caso foi em Votorantim (SP); mulher será indenizada em mais de R$ 270 mil.
Se o amor dos filhos bastar para que o Dia das Mães seja perfeito, uma moradora de Votorantim (SP) tem motivo de sobra para comemorar. Há dez anos, a dona de casa Rita Ribeiro da Silva teve o bebê trocado na maternidade por outro e, após descobrir o engano, não aceitou devolver a criança que já vinha criando. Ela brigou na Justiça até o fim e ficou com os dois. Hoje, o filho não-biológico é só elogios à mãe adotiva. "Não largaria ela por mãe nenhuma no mundo. Tenho paixão por ela. Amo de coração", diz Giuliano Ribeiro.
Na época em que a troca de bebês veio à tona, a história dos dois foi destaque na imprensa. Em junho de 2004, Rita deu à luz Vitor Hugo Ribeiro, mas, devido a um engano de funcionários da Santa Casa, saiu do hospital com Giuliano. Desde o começo, o coração de mãe não se enganou. A diferença de traços e cor de pele dela e do marido em relação ao bebê era gritante, mas o hospital garantiu que não havia engano.
"Eu via que ele era diferente de nós. Fora que era o nome da outra mãe que estava no bercinho dele na maternidade, mas, na pulseira, era o meu nome. Perguntei para as enfermeiras se elas não haviam trocado, mas elas disseram que era impossível. Voltei para casa sentindo que não era meu filho que eu estava levando", relembra a dona de casa.
Mas a confirmação demorou para sair. Foi só durante uma visita a um parente na Santa Casa, meses depois, que a confusão começou a se resolver. Conversando com uma enfermeira, ela comentou o assunto e, diante da gravidade da suspeita, a funcionária levou o caso ao diretor do hospital, que chamou Rita para conversar e ofereceu um teste de DNA. Como o primeiro resultado apontou que Giuliano não era filho do casal, foi solicitado um segundo exame, que veio para confirmar a troca e mudar a vida dos bebês.
A mãe biológica de Giuliano foi contatada e, com o DNA em mãos, o hospital sugeriu que as mães destrocassem as crianças, mas Rita se recusou.
"Eu estava amamentado o Giuliano, e o Vitor não estava sendo amamentado. Eu não podia tirar o bebê do peito de uma hora para outra. Além disso, o Vitor estava com vários bernes pelo corpo e cheio de piolhos. Eu não ia entregar uma criança que estava sendo bem cuidada para ela ficar nesse estado. Era forte o que eu sentia. Me apaixonei por esse 'gordinho'", conta, referindo-se com carinho a Giuliano.
O caso foi levado para a Justiça, que também determinou que os bebês fossem destrocados. Novamente, Rita se recusou e manifestou a vontade de ficar com os dois. "A outra mãe judiou muito dele [Vitor]. Briguei com o juiz, com o promotor e falei que eu não ia entregar a criança", relata a dona de casa.
Segundo ela, a mãe biológica de Giuliano chegou a morar com a família de Rita por duas semanas, mas, por fim, abriu mão do filho. Os bebês já estavam com nove meses quando viraram oficialmente irmãos.
Hoje, Vitor e Giuliano vivem com Rita e três irmãs em uma casa de madeira composta por dois cômodos. Mas a simplicidade do ambiente não tira a alegria dos meninos. "Não importa o que aconteceu, ela é minha mãe. Ela batalhou por mim e conseguiu ficar comigo", diz Giuliano. Vitor é menos falante e resume o sentimento em apenas uma frase: "Minha mãe é a melhor de todas". E Rita entrega: os dois vivem brigando, mas não se desgrudam.
O pai dos meninos morreu há quase cinco anos, em um acidente durante uma pescaria no rio Sorocaba. Para poder cuidar dos cinco filhos – as meninas têm 14, 13 e 7 anos – Rita não trabalha e sustenta as crianças com uma pensão de pouco mais de R$ 1,4 mil deixada pelo marido, que trabalhava como pedreiro em uma construtora.
Indenização
Diante de todo o sofrimento de Rita e dos bebês, a Santa Casa e a Prefeitura de Votorantim foram condenadas, em 2012, a pagar indenização por danos morais. Os dois réus entraram com recursos, que se esgotaram recentemente. Rita teve a decisão a seu favor, em última instância, publicada no fim de março deste ano.
Agora, o processo está em fase de intimação, e a indenização deve ser paga dentro de um ano. Em valores corrigidos, Rita deve receber R$ 188 mil por danos morais e R$ 84 mil pelos 69 meses de pensão acumulados, desde que Giuliano nasceu, totalizando R$ 272 mil.
Além da indenização, a mãe terá uma pensão de um salário mínimo por mês até que Giuliano complete a maioridade. "Vou entrar com pedido de pagamento imediato dessa pensão, tendo em vista que é de pequeno valor", explica o advogado da família, José Roberto Galvão.
Questionada sobre o destino do dinheiro, a dona de casa tem a resposta na ponta da língua: "Vou comprar uma casa, dar um lugar melhor para meus filhos morarem, para que eles possam viver com dignidade, crescer com conforto".

Para ela, vencer o processo vai ajudar, mas não vai fazer com que o assunto seja esquecido. "A indenização jamais vai tirar de nós o que aconteceu, apagar todo o sofrimento. Eles mexeram com vidas humanas. Fui acusada de estar mentindo sobre a paternidade do meu filho. Meu marido chegou a sair de casa por causa disso. Todo mundo falava de mim. Às vezes, me pergunto por que isso foi acontecer comigo. Mas, por outro lado, se não fosse assim, eu não teria meu 'gordinho'", declara.

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