quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dez pessoas são detidas durante desocupação na Zona Oeste do Recife


De acordo com a Polícia Militar, dois policiais foram feridos por pedradas.
Cerca de 1,5 mil famílias ocupavam terreno de 40 hectares desde o dia 4.
Pelo menos dez pessoas foram detidas e encaminhadas à Central de Flagrantes por vandalismo, lesão corporal, ameaça e depredação ao patrimônio durante a desapropriação de um terreno privado, no bairro do Jiquiá, na Zona Oeste do Recife. A ação gerou conflito e houve confronto entre policiais e ocupantes. Pedras foram atiradas e a polícia usou balas de borracha e bombas de gás. A Avenida Recife foi interditada em dois momentos, sendo um com um carro de ferro velho incendiado. A desocupação começou de manhã cedo e apenas no início da tarde desta quinta-feira (21) a situação no local ficou tranquila.
"Durante a nossa chegada por volta das 6h, encontramos no máximo 50 ocupantes que escutaram a leitura do mandado da reintegração de posse e acataram a determinação, se retiraram de forma pacífica", conta o major Júlio Aragão, assessor de comunicação da PM. Algumas horas depois foi que a confusão começou.
De acordo com a Polícia Miliar, um dos manifestantes foi encaminha ao Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri) por pilotar uma moto de cinquenta cilindradas roubada e estar de posse de uma faca peixeira. Ainda segundo a PM, dois policiais ficaram levemente feridos por pedradas. O vidro de um ônibus foi quebrado durante a confusão.
A ordem de despejo do terreno, de 40 hectares, foi expedida pela 21ª Vara Cível da Capital.  Quase 1,5 mil famílias mantinham barracos na área desde o último 4 de maio. "A empresa tem a propriedade e a posse do terreno através de escritura. Imediatamente vamos utilizar a área", afirmou o advogado Marcos Sandes, representante da Jiquiá Desenvolvimento Imobiliário SPE LTDA.
Confrontos
Por volta das 9h, um primeiro confronto ocorreu. Durante cerca de vinte minutos, um grupo interditou a Avenida Recife, no encontro com a BR-101 - a cerca de 500 metros do local da ocupação. Balas de borracha foram disparadas e pedras, atiradas. A situação foi controlada pela PM.
Por volta das 10h, manifestantes fecharam novamente a Avenida Recife, em vias laterais e de retorno. Houve mais discussão e confusão. Um grupo começou jogando pedras em um trator e, em seguida, dezenas de manifestantes resolveram fechar o trânsito na Avenida Recife, que passa perto do local. A polícia tentou dispersar o movimento com balas de borracha. Em troca, pedras foram atiradas e um carro de um ferro velho foi queimado. A confusão durou cerca de vinte minutos. Desta vez, algumas pessoas foram detidas.
Desocupação
O terreno fica por trás do prédio da Justiça Federal, na Avenida Recife, e é chamado de Campo do Jiquiá. A área foi ocupada no último 4 de maio por moradores das comunidades do Vietnã, San Martin e Cacique Xicão, que, juntos, formaram a Comunidade Olga Benário. Segundo eles, havia quase 1,5 mil barracos de lona e madeira no terreno, que tem aproximadamente 40 hectares e pertence a uma empresa privada. A compra teria sido realizada em 2011, mas nada havia sido feito no local até o início do mês.
Ao saber da ocupação, a empresa solicitou a reintegração de posse à Justiça. O pedido foi acatado pelo juiz Paulo Torres Pereira da Silva 21ª Vara Cível do Recife, que emitiu a ordem de despejo. Além dos oficiais de Justiça, representantes da empresa foram ao local e a Polícia Militar enviou 800 policiais. Segundo o major Júlio Aragão, da PM, a equipe chegou ao terreno por volta das 6h.
Ainda de acordo com o Major Júlio, boa parte dos barracos já estava desocupada no início desta manhã e a equipe só encontrou cerca de 50 pessoas no local. Mesmo assim, cinco caminhões foram disponibilizados pela empresa para fazer o transporte dos bens dos moradores.
Moradores
Mesmo após a confusão, parte da comunidade Olga Benário continua no entorno do terreno que foi desocupado. Os moradores dizem que não vão sair dali porque não têm onde morar. Alguns dizem até querer reocupar a propriedade. "Estamos aqui porque queremos moradia. Perdemos tudo e não temos para onde ir. Se não recebermos nenhuma resposta do governo, vamos reocupar esse terreno", afirma Lúcia Brenda. Irene Luiza da Silva, que está grávida de oito meses, apoia a vizinha. "Queremos uma posição, não podemos ficar assim", diz, reclamando que não conseguiu recuperar nada do que tinha em casa.
O líder comunitário da comunidade do Vietnã, Alex Gomes da Paz, reafirma o desejo de voltar a ocupar o terreno e diz que uma equipe da prefeitura chegou a cadastrar alguns moradores da comunidade na tarde de quarta-feira.O cadastramento, no entanto, não teria chegado aos 1,5 mil barracos. "Não vou desistir de uma moradia. O governo diz que Pernambuco não tem terra para a construção de conjuntos habitacionais, mas esse terreno estava desocupado há anos. Disseram que iam construir um shopping, depois prédios, e até agora nada. Enquanto isso, nós ficamos sem um lugar seguro para morar", reclama. Ele explica que parte dos moradores do Vietnã se mudou para o terreno do Jiquiá no início do mês porque estava vivendo em uma área de risco, embaixo da fiação elétrica. "Quando chovia, precisávamos sair correndo com medo de choque", conta.
A Prefeitura do Recife informou que foi feito um cadastro das famílias que estavam no terreno para, depois, analisar dentro do sistema de habitação do município quem tem direito a receber terreno ou casa popular. Não foi informado prazo para essa análise ser concluída.
Para evitar que o terreno seja reocupado, parte do efetivo enviado pela Polícia Militar para o cumprimento da ordem de despejo continua de prontidão no entorno da propriedade. Há pelo menos três pontos de vigia, com cerca de 70 policiais. Eles afirmam que estão monitorando a situação para garantir a reintegração de posse e a tranquilidade na área.


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