quinta-feira, 21 de maio de 2015

Moradores de bairro 'esquecido' de SP viajam até 3 horas para se divertir


Sem cinema ou shopping, Marsilac, Zona Sul, tem alta taxa de homicídios.
Quem vive no local diz que única praça fica cheia de usuários de drogas.
Moradores do distrito de Marsilac, no extremo da Zona Sul de São Paulo, precisam viajar até três horas para buscar uma opção de lazer em outra região. Se o passeio for visitar a Praça da Sé, no Centro de Capital, o caminho em linha reta é de 60 km. A opção mais procurada para quem mora no "bairro esquecido" é ir ao cinema nos shoppings em Santo Amaro e Parelheiros.
Segundo o estudo "O Mapa da Desigualdade", Marsilac não tem cinema, teatro, centro cultural, museu ou área para prática de esporte. O distrito também teve a maior quantidade de homicídios a cada 10 mil habitantes e taxa mais alta de mortes entre jovens de 14 a 29 anos, em 2014. Nem o mosquito da dengue chega lá, brincam os moradores.
"A gente tem de sair daqui, vai para o Centro de São Paulo, porque aqui não tem diversão. É zero, zero. A gente demora umas três horas, depende do ônibus. Geralmente é o dia inteiro. A gente perde mais tempo se deslocando do que se divertindo", disse a professora Silvana Aparecida Silva, 35 anos.
Ela se preocupa com a falta de um local para as crianças de Marsilac brincar e que por isso muitas acabam brincando na rua mesmo. "Gostaria que tivesse mais espaços para as crianças, parques, um lugar seguro para os menores. Se tivesse algum centro cultural com eventos iria ajudar muito. Se tivesse cinema aqui seria ótimo, teatro também", afirmou Silvana.
A comerciante Natália Almeida Ferreira, 25 anos, disse que costuma se divertir em Parelheiros. "A gente se diverte indo para o ponto de ônibus, esperando 40 minutos e indo até Parelheiros. Até lá são mais 40 minutos, pelo menos. Para outro lugar é mais demorado, até duas horas."
Ela falou que em Parelheiros a opção de diversão é ficar nas praças. “Vamos a algum barzinho ou local de eventos. Se for para cinema ou teatro, demora mais, até duas ou três horas, isso se for para o Centro, pra Sé ou para a Avenida Paulista”, disse Natália.
Grávida de quase 9 meses, a comerciante também disse estar atenta ao problema de violência em Marsilac. “Vi os números da pesquisa e a gente fica preocupada mesmo, mas vamos fazer o que, né?”
Paula Herculano Matias, 34 anos, dona de casa, disse que “quando a gente vai se divertir vai de busão porque aqui em Marsilac não tem onde se divertir. É bem longe mesmo. A gente vai para o shopping em Interlagos, em Santo Amaro. Nunca fui ao teatro, mas gosto. Tenho três filhos e uma dificuldade de encontrar lazer para eles. Não tem lazer para criança aqui.”
A professora Edileuza Silva, 38 anos, também frequenta shoppings de outros bairros para se divertir. "Aqui não tem praticamente nada. Demora uma hora, dependendo do motorista do ônibus. Sinto mais falta de lazer, de cinema. O que tem aqui é uma pracinha e é um lugar onde ficam pessoas usando drogas à noite, então, nem ficamos perto.”
O recreador infantil Edson da Rocha Machado, 28 anos, disse que tem dificuldade até para trabalhar em Marsilac. "Emprego nessa área só em outras regiões. Para se divertir aqui só temos a quadra da escola pública, o campo de futebol e a cachoeira quando está verão. Se quiser cinema, teatro tem de ir ao shopping em Santo Amaro ou Interlagos, mas o mínimo de tempo que se perde são duas horas. Quem tem carro fica mais rápido."


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