quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sem viagens para SP, haitianos no AC têm que escolher novos destinos


'Se os ônibus para São Paulo não voltarem, não vou esperar', diz imigrante.
Ministério da Justiça suspendeu viagens para a capital paulista.
Com a suspensão do apoio federal para viagens de imigrantes do Acre para a capital paulista, anunciada na terça-feira (19), um aviso que estabelece outras seis cidades brasileiras como destino foi afixado na porta de um abrigo, em Rio Branco.
Nesta quinta-feira (21), dois ônibus para Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba deverão sair levando parte das pessoas. De acordo com o aviso, além dos estados da Região Sul, elas podem escolher ainda ir para Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande. A maioria dos imigrantes veio do Haiti ao Brasil em busca de trabalho.
A suspensão do repasse de recursos federais para viagens a São Paulo ocorreu após a cidade reclamar da chegada de haitianos sem aviso prévio. Segundo o Ministério da Justiça, a transferência será retomada quando a questão estiver coordenada entre órgãos do governo federal, estados e municípios.
De acordo com o porta-voz do governo do Acre, Leonildo Rosas, o governo do Acre deverá procurar as prefeituras das outras cidades para falar sobre a chegada dos novos moradores. "Porto Alegre já entrou em contato conosco na quarta-feira (20), e vamos entrar em contato com as outras para que elas possam se preparar", afirmou o porta-voz, dizendo ainda que os destinos são escolhidos pelos próprios imigrantes.

A viagens serão pagas com o dinheiro de um convênio firmado pelo governo do Acre com o Ministério da Justiça. Até esta quarta-feira (20), 600 imigrantes estavam registrados no abrigo, desses 220 haviam chegado na véspera. O abrigo possui capacidade para receber até 240 pessoas.
'Se os ônibus para São Paulo não voltarem, não vou esperar'
Mesmo com as viagens do abrigo em Rio Branco para São Paulo suspensas, a cidade ainda é considerada destino para um grupo de imigrantes, que busca agora uma alternativa para chegar até lá. Esse é o caso de Richama Louissant, de 27 anos, no abrigo há aproximadamente um mês. Ela conta que pretende seguir por conta própria.

"Preciso ir para lá e vou esperar ao menos mais dois dias, mas se os ônibus para São Paulo não voltarem, não vou esperar mais", diz. Richama explica que quer ir para a capital paulista, porque parte da família dela já mora na cidade. "Meus três irmãos já vivem lá. Quero ir para lá para trabalhar em qualquer coisa", conta.

Já o haitiano Willy Jean, de 35 anos, ainda não sabe para onde ir, mas não nega que São Paulo é um possível destino. "Estou esperando para descobrir onde alguns amigos meus estão, para que eu possa encontrá-los. Se eles estiverem em São Paulo talvez eu tenha que dar um jeito de ir para lá", diz.

Entenda o caso
O Ministério da Justiça anunciou, na terça-feira (19), que um acordo com o governo acreano suspendeu o envio de imigrantes haitianos para a cidade de São Paulo. Segundo o ministério, a transferência "está suspensa até que ações referentes a essa questão estejam bem coordenadas entre os vários órgãos do governo federal, estados e municípios".

Inicialmente, a pasta havia informado que a transferência estava proibida para todos os estados do país. Às 22h10 da terça-feira, porém, o ministério afirmou que o acordo diz respeito apenas à cidade de São Paulo.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que não havia sido informada sobre a chegada de, aproximadamente, 1 mil imigrantes e, por isso, não tinha estrutura para recebê-los. Só na segunda-feira (18), em torno de 80 haitianos desembarcaram na cidade.
"É difícil receber estes haitianos sem termos 15 a 20 dias de antecedência para nos preparamos. São Paulo recebe bem os imigrantes, mas precisa de uma antecedência para planejar, até para conforto dos imigrantes", disse o prefeito Fernando Haddad em entrevista à rádio CBN.

Já no dia 14 de maio, o governo do Acre se manifestou por meio do porta-voz oficial, Leonildo Rosas. Ele reforçou o informe do Ministério da Justiça sobre a continuidade das viagens para outras cidades e a suspensão das que estavam programadas para São Paulo.

"Houve um acordo comum entre os entes envolvidos – governo federal, São Paulo e Acre – para que haja uma suspensão temporária na ida desses imigrantes, até que se defina o fluxo. O convênio com governo para a ida para outros estados do Centro-Sul permanece. Vale destacar que o destino não é definido pelo governo, os imigrantes dizem para que lugares querem ir", afirmou na ocasião.

Rosas comentou ainda a reclamação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobre não ter sido informado quanto à chegada de imigrantes. Segundo o porta-voz, o estado também não é notificado sobre a chegada das pessoas.

"Os imigrantes quando chegam ao Acre não notificam. Essa medida de informar os estados é do governo federal. Não cabe ao Acre fazer essa mediação. Nós acolhemos os imigrantes. Eles definem para onde vão e o governo federal faz essa mediação", disse.
Rota de imigração
Imigrantes chegam ao Acre todos os dias através da fronteira do Peru com a cidade de Assis Brasil, distante 342 km da capital. A maioria são imigrantes haitianos que deixaram a terra natal, desde 2010, quando um forte terremoto deixou mais de 300 mil mortos e devastou parte do país. De acordo com o governo do estado, desde 2010, mais de 32 mil imigrantes entraram no Brasil pelo Acre.

Eles vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor e de poder ajudar familiares que ficaram para trás. Para chegar até o Acre, eles saem, em sua maioria, da capital haitiana, Porto Príncipe, e vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana, que fica na mesma ilha. Lá, compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.

Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cusco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar a Brasiléia.


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