'Muita coisa
mudou desde o início do ano', afirmou o ministro da Fazenda.
PIB do
primeiro trimestre de 2015 recuou 0,2%, segundo o IBGE.
O ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, atribuiu a queda de 0,2% no Produto Interno Bruto
(PIB) no primeiro trimestre de 2015 à "incerteza" sobre a economia
brasileira no final do ano passado e no início deste ano. Ele citou como
problemas enfrentados pelo país nesse período as crises de abastecimento de
água e de energia.
"Muita
gente tinha dúvida sobre a economia brasileira, o rumo que ia tomar. Muita
coisa mudou desde o começo do ano. Vencemos estes desafios imediatos. O
primeiro trimestre é reflexo de uma dinâmica que a gente está trabalhando para
mudar", disse Levy nesta sexta-feira (29) em almoço na Federação das
Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), horas depois da divulgação dos dados da
economia pelo IBGE.
A queda no
PIB foi puxada pelo desempenho negativo do setor de serviços e da indústria,
além do recuo do consumo das famílias e dos investimentos. O que evitou um
tombo ainda maior do PIB foi a agropecuária.
Expectativa
Segundo
Levy, o segundo trimestre será de transição. Ainda assim, ele aposta em "sinais
diferentes" dos indicadores econômicos.
Para Levy, é
preciso que o país tome medidas contundentes para mudar o quadro. “Nós temos
visto o desemprego aumentar um pouco e nós temos que, portanto, tomar ações
enérgicas para evitar que a economia possa entrar em algum processo mais
extenso de recessão."
O ministro
afirmou que o foco das ações do governo é fazer a economia voltar a crescer e
ressaltou a importância do ajuste fiscal.
"Nós
temos que focar toda a nossa energia para voltarmos a crescer, para criamos
empregos, e é por isso que o governo tem tido tanto compromisso [...] em vencer
essas medidas legislativas associadas ao ajuste fiscal para podermos tratar de
uma agenda, que é uma agenda de crescimento.”
Ao concluir
sua fala, Levy afirmou que é preciso garantir que a economia brasileira esteja
em um clima "extremamente favorável" para a realização das Olimpíadas
no ano que vem no Rio de Janeiro.
'Fraqueza'
Pouco antes
do almoço, em comemoração ao Dia da Indústria, o presidente da Firjan, Eduardo
Eugênio Gouvea Vieira, citou a "tarefa hercúlea de equilibrar as contas
públicas" e disse que a simplificação do sistema tributário é uma bandeira
da federação.
Em nota, a
Firjan comentou o resultado do PIB. "A composição do PIB mostrou
fraqueza disseminada, com resultados
negativos para as famílias, para o governo e para a indústria", diz.
Em outro, a
nota defende a mudança da postura fiscal, priorizando a diminuição dos gastos
públicos de natureza corrente e a implementação de regras explícitas que
limitem o seu crescimento ao longo dos próximos anos.
Desempenho
por setor
Na produção,
o resultado negativo nos primeiros três meses deste ano foi puxado pela queda
de 0,7% no setor de serviços, que representa mais de 60% do PIB brasileiro.
Seguindo o
mesmo comportamento, a indústria também recuou em relação aos três últimos
meses de 2014, mas em um ritmo menor, de 0,3%. Na agropecuária, a alta foi de
4,7%.
“Na parte
negativa [pela ótica da produção], está a produção e distribuição de
eletricidade, gás e água, já que estamos tendo redução no consumo de água e,
além disso, estamos, desde o segundo trimestre do ano passado, usando muito
mais as térmicas do que vínhamos usando antes, e isso afeta negativamente
também”, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do
IBGE.
O consumo
das famílias, também usado no cálculo do PIB, pela ótica da demanda, caiu 1,5%
– a maior retração desde o último trimestre de 2008, quando a baixa foi de
2,1%.
Os
investimentos e os gastos do governo tiveram ambos queda de 1,3%. No setor
externo, os resultados foram positivos. Enquanto as importações cresceram 1,2%,
as exportações tiveram expansão de 5,7%.
Retrato de
2014
Na
comparação com o mesmo período do ano passado, a queda do PIB foi ainda maior,
de 1,6%. A maioria dos setores teve resultados mais negativos que os vistos na
comparação com o quarto trimestre de 2014.
Enquanto os
serviços recuaram 1,2%, puxados pela forte queda no comércio, a indústria
encolheu 3%, influenciada pela diminuição da produção de veículos no país.
Apenas a agropecuária registrou resultado positivo, de 4%, com avanço de
culturas como de soja e arroz.
"A
queda de 7% na indústria de transformação foi a que mais puxou a indústria para
baixo. E olhando por dentro da indústria de transformação, toda a indústria
automotiva teve queda nesse trimestre, desde a parte dos automóveis. A gente
teve suspensão dos incentivos fiscais, a própria renda comprometida das
famílias.", disse Rebeca.
"A
própria parte da indústria pesada, caminhão, que é considerada investimento,
afeta diretamente a taxa negativa dos investimentos. Também teve queda,
influenciado por aumento de juros, o crédito nesse setor", afirmou a
coordenadora do IBGE.
Demanda
Pela ótica
da demanda, o destaque ficou com o consumo das famílias, que, ao recuar 0,9%,
registrou a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2003 nessa base de
comparação.
O desempenho
é explicado pela "evolução negativa dos indicadores de inflação, crédito,
emprego e renda ao longo dos três primeiros meses do ano", segundo o IBGE.
“A gente
teve aumento de juros. A Selic [juros básicos da economia] alcançou 12,2% ao
ano no primeiro trimestre de 2015, contra 10,4% ao ano no primeiro trimestre de
2014. E o IPCA [a inflação oficial], quando a gente faz a comparação do
primeiro trimestre de 2015 contra o mesmo período do ano anterior, também teve
aceleração. E isso tudo prejudicou o consumo das famílias”, disse Rebeca.
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