terça-feira, 5 de maio de 2015

Costa diz à CPI que doadores de campanha não dão 'almoço de graça'


Ex-diretor da Petrobras e delator na Lava Jato foi à CPI pela terceira vez.
Ele se disse 'amargamente arrependido' e afirmou que está 'sofrendo'.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou nesta terça-feira (5), em depoimento aos deputados da CPI que investiga desvios de recursos da estatal, que não há "almoço de graça" e que empresas fazem doações oficiais a campanhas eleitorais para “cobrá-los” depois.
Um dos argumentos utilizados pelo tesoureiro licenciado do PT, João Vaccari Neto, para justificar as doações obtidas de empresas investigadas na Operação Lava Jato é que foram realizadas legamente, mediante recibo e com registro na Justiça Eleitoral. O Ministério Público afirma que parte das doações oficiais a partidos foi feita com recursos oriundos do superfaturamento de obras da Petrobras.
Segundo Paulo Roberto Costa afirmou à CPI, várias doações oficiais dessas empresas vieram de propina. “Os valores, sejam valores de doações oficiais ou não, têm restrições. Algumas empresas me falaram isso, e agora, nas delações, isso está ficando claro. Não existe almoço de graça”, declarou.
“Não existem doações de empresas em que essas empresas não queiram recuperar o que foi doado”, afirmou. “Precisamos passar o Brasil a limpo e acabar com essa hipocrisia de que as empresas vão doar valores e que não vão cobrá-los lá na frente”, disse.
Questionado pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), Costa reafirmou ter sido procurado pelo então presidente do PSDB Sérgio Guerra para que pagasse um suborno a fim de esvaziar a CPI da Petrobras em funcionamento na época. “Esse valor foi efetivado, foi pago e esse evento [a CPI] depois deixou de ter prioridade, efetividade. Isso está detalhado
É um fato real que ocorreu”, disse.
No início do depoimento, Costa se disse “arrependido” e afirmou que espera que o “sacrifício” dele não seja "em vão".
“Se eu pudesse voltar no passado nada eu faria. Eu espero que essa seja uma oportunidade para o Brasil passar a limpo uma série de coisas”, afirmou aos parlamentares.
Costa disse que estar “amargamente” arrependido e que não só ele, mas a sua família também está sofrendo. “Espero que o meu sacrifício não seja em vão”, afirmou.
O ex-dirigente da petroleira presta depoimento na condição de investigado. Ele foi à CPI acompanhado de cinco advogados.
“Estou dando a minha contribuição com muito sofrimento. Agora, se isso não for à frente, se não for avaliado em todas as frentes, talvez não valha a pena”, afirmou Costa.
Ele atribuiu a corrupção na estatal à interferência política na gestão da empresa.
“Se não fossem alguns maus políticos a levar a Petrobras a fazer o que fez... O que fez não foi inventado pela Petrobras, não foi inventado por nenhuma empresa, a origem disso [da corrupção] foram os maus políticos que fizeram isso acontecer”, disse. Para ele, essa é a “oportunidade de fazer a ruptura de um sistema podre”, afirmou o ex-diretor da estatal.
Depoimentos anteriores
É a terceira vez que Paulo Roberto Costa é convocado ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre o esquema de corrupção que funcionava na estatal.
Em setembro passado, Costa esteve na CPI mista, formada por deputados e senadores, mas se recusou a responder às perguntas dos parlamentares.
Depois, ele voltou à CPI mista em dezembro para uma acareação com o ex-diretor da área Internacional Nestor Cerveró. O objetivo era esclarecer pontos divergentes entre os depoimentos dos dois. Em sua delação, Costa disse que Cerveró foi um dos beneficiários do esquema na Petrobras, o que foi negado pelo ex-colega.
Costa foi preso em março do ano passado durante a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ele foi solto em maio, mas acabou voltando para a prisão em junho a pedido do Ministério Público, que temia que ele fugisse. Em outubro, após ter sido homologada pela Justiça a sua delação premiada, Costa passou para o regime domiciliar, monitorado por uma tornozeleira eletrônica.
Se confirmadas as informações que deu a policiais e procuradores com base na delação premiada, o ex-diretor poderá ter a pena reduzida.
Em seus depoimentos, Costa detalhou como funcionava o esquema de pagamento de propina por empreiteiras em troca de contratos com a Petrobras e como era o repasse para os partidos políticos envolvidos.
A delação dele e a do doleiro Alberto Youssef serviram de base para a abertura de inquéritos contra 47 políticos, além do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Soares, o "Fernando Baiano", apontados como operadores do esquema.

Para que Costa pudesse ser ouvido pelos deputados pela CPI nas dependências da Câmara, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspendeu temporariamente uma decisão interna que proíbe o depoimento de presos no local.

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