Familiares
de vítimas do incêndio em 2013 acompanham julgamento.
Outros cinco
serão julgados na quarta (3), quando sairão as sentenças.
Começou
nesta terça-feira (2) o primeiro julgamento sobre o incêndio na boate Kiss,
ocorrido no dia 27 de janeiro de 2013 e que causou 242 mortes em Santa Maria.
No âmbito da Justiça Militar, três réus são julgados ao longo do dia, e outros
cinco na quarta-feira (3), totalizando oito integrantes do Corpo de Bombeiros,
quando deverá sair a sentença da juíza Viviane de Freitas. O julgamento já dura
sete horas.
Os oito réus
compareceram ao fórum da cidade da Região Central do Rio Grande do Sul. Após a
leitura de depoimentos e de trechos do inquérito durante a manhã, o Ministério
Público tomou a plavara durante a tarde. Primeiro a falar, o promotor Joel
Dutra destacou que 18 mil documentos integram o processo e criticou o SIG-PI,
sistema criado e utilizado pelos bombeiros para agilizar a concessão de
alvarás.
"Quando
colocaram no alvará da Kiss que a legislação vigente foi observada, não era
verdade", afirmou.
Em seguida,
foi a vez do promotor César Carlan falar. De acordo com ele, o comando foi
condescendente com bombeiro proprietário da empresa Hidramix, que solicitava
encaminhamentos de PPCIs.
Pouco depois
das 16h30, a argumentação da defesa teve início. O advogado Werley Alves Filho
fala na defesa dos réus Moisés Fuchs e Alex da Rocha Camillo.
Pela manhã,
os réus chegaram sem falar com a imprensa. Muitos bombeiros acompanharam o
julgamento, o que foi motivo de protestos entre pais de vítimas que não
conseguiram entrar. Antes do início da sessão, a Justiça distribiu senhas para
o público que quisesse acompanhar. Foram 60 entradas, sendo 15 para a imprensa,
oito para familiares dos réus e as restantes para a comunidade.
São julgados
nesta terça o ex-comandante regional dos bombeiros, tenente-coronel da reserva
Moisés Fuchs, o tenente-coronel da reserva Daniel da Silva Adriano, que
comandava o setor de prevenção a incêndio quando foi concedido o primeiro
alvará da boate Kiss, e o capitão Alex da Rocha Camilo, que assinou o segundo
alvará da casa noturna. Eles respondem por inserir declarações falsas em
documentos, deixar de exercer obrigações do seu cargo e por inobservância da
lei. As sentenças saem na quarta-feira. Cabe recurso da decisão no Tribunal de
Justiça Militar do estado, em Porto Alegre.
Na primeira
parte do julgamento foi realizada a leitura de peças, que são partes do
Inquérito Policial Militar. Os pedidos de leitura foram tanto da defesa quanto
da acusação. Foi estipulado um período de três horas para a acusação. Depois, a
defesa também teve o mesmo tempo concedido para a sua posição. Há possibilidade
de réplica e tréplica.
Em frente ao
fórum, familiares de vítimas penduraram cartazes com fotos de jovens mortos no
incêndio.
Na
quarta-feira, serão julgados Gilson Martins Dias, Marcos Vinícius Lopes Bastide
e Vagner Guimarães Coelho (soldados dos Corpo de Bombeiros), Renan Severo
Berleze e Sérgio Roberto Oliveira de Andrades (sargentos do Corpo de
Bombeiros).
Entenda
O incêndio
na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de
2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais
de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada
Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos
Andradas, 1.925.
O local
tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem
no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a
tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento
acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída
única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão
em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por
homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os
outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão
sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão
respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um
deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as
pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo
eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro
Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista
Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro
chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu
liberdade provisória a eles em maio de 2013.
Atualmente,
o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100
pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos
das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são
ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa
fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma
etapa intermediária do processo.
No dia 5 de
dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes
como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas
denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação
de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à
prefeitura.
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