quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ex-vice-presidente do BB é preso em operação da Polícia Federal


Funcionários de bancos e doleiros estão entre os 11 presos pela PF.
Estimativa é de que R$ 3 bilhões foram lavados em 3 anos.
O ex-vice-presidente do Banco do Brasil, Allan Simões Toledo, foi preso nesta segunda-feira (11) durante operação da Polícia Federal em São Paulo contra evasão de divisas e lavagem de dinheiro entre o Brasil e países do exterior. As prisões temporárias de oito pessoas foram decretadas após decisão da 2ª Vara Federal Criminal em São Paulo.
Na mesma decisão, foi decretada a prisão preventiva de outras quatro pessoas. Foram expedidos ainda mandados de condução coercitiva de outras duas pessoas. No total, a PF prendeu 11 pessoas. Funcionários de bancos e doleiros estão entre os presos. A estimativa é a de que em três anos, R$ 3 bilhões foram lavados.
O Banco do Brasil informou que Toledo foi desligado em dezembro de 2011 e que não possui nenhuma informação sobre os fatos investigados. Ele trabalhou por 29 anos no banco e foi retirado do cargo por decisão do Conselho de Administração do BB seguindo recomendação da diretoria.
O Banif disse que não vai se manifestar sobre a prisão do executivo.
Das 11 prisões, oito ocorreram na capital paulista, uma em Araras, no interior paulista, uma em Resende, no Rio de Janeiro, e uma em Curitiba, no Paraná, onde foi preso o ex-secretário municipal da Copa do Mundo, Luiz de Carvalho. A PF solicitou à Justiça que sete suspeitos fiquem detidos temporariamente e 4, de forma preventiva.
O próximo passo da operação é a identificação dos clientes e motivos das movimentações financeiras. Os nomes dos detidos e das empresas investigadas não foram divulgados.
A PF pediu à Justiça o bloqueio de várias contas de passagens, que eram usadas para movimentar o dinheiro, além de imóveis. Foi apreendido R$ 1 milhão de dinheiro em espécie nesta manhã.
O esquema contou com a participação de três funcionários de um banco identificado sediado na capital paulista. A investigação indica que outros bancos estejam envolvidos na operação.
"Pelo perfil que a gente pode observar até pelos antecedentes criminais de alguns dos envolvidos essas pessoas fazem parte do crime financeiro, do crime do colarinho branco o seu modo de vida", disse Ferreira Neto. Alguns detidos já tiveram passagens por crimes contra o sistema financeiro, segundo o delegado a PF Alberto Ferreira Neto
Em um ano, apenas uma das empresas investigadas movimentou R$ 170 milhões.
Uma estatal venezuelana, que não teve o nome e nem o ramo de atividade divulgado, está sendo investigada por envolvimento na operação.
"O dinheiro passava por contas de passagem inclusive de uma estatal venezuelana e dali vinha para o Brasil ou ia para Hong Kong", declarou o delegado. Apesar da conta ser de uma estatal, não se sabe ainda se o dinheiro vem do governo da Venezuela. "Nós não fizemos uma cooperação policial internacional com a Venezuela, então não se pode ter uma precisão".
A operação, nomeada como Porto Victoria, também cumpriu dois mandados de condução coercitiva e 30 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Araras, Indaiatuba, Santa Bárbara do Oeste, no interior paulista, além de Curitiba (PR) e Resende (RJ).
Investigação
O crime começou a ser investigado em 2014, após um pedido da Agência Norte-Americana de Imigração e Alfândega (ICE) para apurar o envolvimento de um brasileiro em uma organização criminosa que atuava em diversos países como Reino Unido, Venezuela, Estados Unidos, Brasil e Hong Kong. A evasão de divisas ocorre quando um país envia dinheiro para o exterior sem declará-lo.
A organização criminosa realizava importações fictícias da Venezuela por empresas brasileiras, sem que o produto fosse comercializado. Além disso, os produtos brasileiros eram superfaturados em até 5.000 % para justificar a remessa dos valores.
"As exportações da Venezuela para que pudesse legitimar a entrada do dinheiro no Brasil ocorriam algumas operações, ou seja, existia o trânsito de mercadorias,  só que de forma superfaturada", afirmou o delegado Ferreira Neto.
Um dos exemplos citados pelo delegado para elucidar como os suspeitos atuavam foi o de uma máquina de processar alimentos com valor estimado em R$ 20 mil e que foi exportada por R$ 1 milhão. Ao menos 30 empresas de fachada foram identificadas.
"A importação era só uma farsa para que eles pudessem mandar dinheiro para Hong Kong. Uma outra forma de mandar dinheiro para o exterior era por meio de empréstimos à residentes. Mas esses empréstimos eram feitos do Brasil para empresas da própria organização criminosa, assim eles conseguiam capitalizar as suas contas secretas mantidas em Hong Kong", completou.
Na sequência eram feitos empréstimos e importações simuladas para Hong Kong, de onde o dinheiro era encaminhado para outras contas ao redor do mundo.
Já no Brasil, eram feitas importações fictícias realizadas por empresas brasileiras. Essas operações contavam com a colaboração de operadores do sistema financeiro com bancos e corretoras de valores para o envio de dólares para o exterior, com aparência de legalidade.
Também foram detectadas transações por meio de um esquema conhecido como “dólar cabo”, que é modo de envio de dinheiro para o exterior que não passa pelas instituições financeiras. Normalmente, esse envio é feito por doleiros no mercado paralelo.

Os detidos responderão pelos crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira e organização criminosa.

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