Família
alega que casa foi invadida e mostra marca de sangue na cama.
PF diz que
ele estava com arma em punho, se escondeu e foi perseguido.
"Um
erro inexplicável". Assim a recepcionista Viviane Bastos Souza Neri, 32
anos, classifica a operação da Polícia Federal (PF), na manhã desta terça-feira
(16), que provocou a morte do esposo, Márcio Neri dos Santos, de 35 anos. O
rapaz foi baleado por volta das 5h30, durante cumprimento de mandados de prisão
da Operação "Carga Pesada", que desarticulou uma organização
criminosa que teria desviado cerca de R$ 100 milhões em cargas do Porto de
Aratu, em Candeias, região metropolitana de Salvador. Até as 18h, 16 pessoas
foram presas.
A PF admitiu
que o homem morto não estava entre os procurados, porém afirmou que ele estava
armado no momento em que os agentes chegaram à sua residência em busca de
suspeitos. O caso ocorreu no Condomínio Parque das Orquídeas, no bairro de Pau
da Lima.
A esposa,
Viviane Bastos, contou que estava com marido até o fim da madrugada.
"Trabalho às 6h. Então, a gente sai daqui por volta das 4h30, 4h45, porque
tenho que deixar a minha filhinha com a minha irmã, que mora em Pau da Lima
[mesmo bairro]. Ele deixa nossa filhinha lá, me deixa no ponto e depois ele vem
para casa. Ele estava de férias desde o início do mês. Normalmente, me deixa no
ponto e vai para o trabalho. Desta vez, ele voltou para casa para
descansar", informou.
Para Bastos,
o marido trabalha como caminhoneiro na mesma empresa há cerca de 5 anos e foi
alvo de um erro da polícia. "Ele estava dormindo. Como vocês podem ver
[apontou para cama que dividiam], o sangue está todo na cama. Não tem como ele
ter reagido. Não precisa ser uma pessoa estudada para saber que o que eles
fizeram foi errado. Não tem explicação", lamentou.
Viviane
também disse ainda que o esposo não tinha arma de fogo. "A única arma que
temos aqui em casa é a Bíblia. Agora, queremos justiça", contou. A
recepcionista afirma que estava casada com Márcio Neri dos Santos há três anos
e que se mudou para ao apartamento onde o marido foi morto há dois anos.
"O apartamento é financiado. A gente estava construindo a nossa vida. A
outra casa [em Vila Canária] era a própria, mas a gente desistiu de lá e a
gente financiou esse para ficar mais perto da minha mãe", afirmou.
Além do
bebê, Márcio deixa duas filhas, uma de 11 meses e uma de 10 anos, fruto de
outro relacionamento. "Tínhamos muito planos. A gente sentava, falava da
nossa casa, a gente se apertava para amortecer as parcelas do apartamento.
Depois de pagar, queríamos parar um pouco para curtir nossa filhinha de 11
meses", afirmou. Segundo a esposa, eles moram no apartamento de número 4 e
o mandado policial deveria ter sido cumprido no de número 104.
O homem
baleado dentro de casa durante a operação morreu no Hospital Geral do Estado
(HGE). De acordo com a PF, os policiais foram ao local para cumprir dois
mandados de prisão no condomínio. Um homem foi preso e a outra pessoa procurada
não foi localizada. Uma equipe de perícia foi acionada para investigar as
circunstâncias da ação policial.
A família
classificou a atuação da PF como "desastrosa", afirmou que o rapaz
não tem arma e não tem envolvimento com crime. "Confundiram o apartamento
e fizeram essa barbaridade com meu irmão. Eles invadiram o apartamento, mas a
pessoa que eles buscavam estava em outro apartamento. Meu irmão trabalhava como
motorista, e não tinha arma nenhuma. A única arma que eles tinham em casa é uma
bíblia porque a esposa dele é uma pessoa muito religiosa", contou a irmã
Daiana Neri.
Versão da PF
Em nota, a
PF informou que a situação aconteceu em uma das buscas no interior do prédio
alvo de dois mandados de prisão. Segundo a polícia, o homem morto estava com a
arma de fogo em punho na porta de um dos apartamentos. A PF informou que a arma
foi apreendida, a equipe foi identificada, exames periciais foram realizados e
testemunhas foram ouvidas.
"A
equipe ordenou que largasse a arma, tendo o homem desobedecido a ordem e se
escondido no interior do apartamento, obrigando os policiais a segui-lo e
ordenarem novamente que soltasse a arma. Novamente, ele não obedeceu,
mantendo-a apontada para a equipe, que, para resguardar suas vidas, não teve
outra opção senão efetuar disparos. Em seguida, providenciou-se imediato socorro,
levando-no até o Hospital Geral do Estado", informou. "Os elementos
colhidos até o momento demonstram que em princípio a ação revestiu-se de
legalidade, estando os fatos ainda sob investigação, finda a qual serão
esclarecidas em definitivo as circunstâncias", completou.
Operação
desarticula quadrilha
"Agia
como máfia", afirmou o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Fábio
Mota Muniz, sobre o grupo criminoso que teria desviado cerca de R$ 100 milhões
em cargas do Porto de Aratu, em Candeias, que movimenta 60% da operações
portuárias no estado.
A
investigação apontou que o grupo atuava há pelo menos 10 anos e pessoas que se
opuseram chegaram a ser mortas. A quadrilha foi desarticulada com a operação
"Carga Pesada", deflagrada nesta terça-feira;
Ao total, a
operação da PF cumpriu 15 de 24 mandados de prisão e 24 mandados de busca e
apreensão. Uma pessoa, que não estava na lista de procuradas, foi detida em
flagrante. A operação aconteceu ainda nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Durante
coletiva para a imprensa, o delegado informou que organização criminosa tinha
com mentores o antigo e atual presidentes da Cooperativa de Motoristas
Autônomos do Estado da Bahia. A PF preferiu manter os nomes dos principais
suspeitos em sigilo. Eles atuavam com o apoio de seguranças de armazéns de
Aratu, profissionais de controle de acesso, guardas portuários e ao menos um
policial rodoviária estadual reformado.
"Uma
delas começou uma investigação para levantar informações para empresa [que
estava sendo prejudicada] e acabou sendo vítima da quadrilha. Posteriormente,
algumas pessoas que faziam parte e que não queriam mais fazer e até ficaram
contra foram vítimas da ação", explicou o delegado responsável.
Levantamento da PF apontou que três mortes e mais três tentativas de homicídios
relacionados ao grupo criminoso foram cometidos entre 2012 e 2015.
A PF
informou que a investigação começou no segundo semestre de 2014. "Tínhamos
conhecimento desses furtos que estavam ocorrendo no Porto de Aratu e precisavam
ser combatidos. Posteriormente, chegou a informação de que pessoas estavam
sendo ameaçadas e até mesmo assassinadas", relatou Mota Muniz.
A operação
contou aproximadamente com 200 policiais. Na Bahia, além de Candeias e
Salvador, a PF realiza ações em Simões Filho e Camaçari. Segundo a PF, duas
empresas foram alvos do furto, uma de concentrado de cobre, que é a única que
importa o material no Brasil, e outra de fertilizantes. As investigações
começaram a partir de duas apreensões de caminhões realizadas pela polícia em
Minas Gerais e São Paulo.
Esquema
milionário
A
organização era composta pelos diretores da cooperativa, que organizava o
carregamento de caminhões e o transporte de todas as mercadorias do Porto de
Aratu para unidades produtoras e consumidores em diversas regiões do país. Além
do roubo das cargas, a quadrilha extorquia e intimidava testemunhas.
Os
envolvidos vão responder por furto qualificado, participação em organização
criminosa, falsidade ideológica, corrupção ativa, corrupção passiva e
homicídios de testemunhas que ameaçaram delatar a organização.
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