terça-feira, 9 de junho de 2015

Tráfico usa trilhas e acampamentos para fugir da polícia e invadir favelas


Traficantes se especializam em matas nas Forças Armadas, diz delegado.
Para criminoso, favelas estão inseguras: 'Na mata, camuflou já era'.
A polícia do Rio enfrenta um novo desafio para combater o tráfico de drogas na cidade, como mostrou. Traficantes passaram a se esconder em matas próximas de favelas e chegam até a montar acampamentos. O objetivo é fugir das ações policiais para não serem capturados. As trilhas pela mata também são estratégicas para traficantes invadirem outras comunidades e transportarem drogas.
O novo recurso das facções criminosas tem a ver com a geografia da cidade. O maciço da Floresta da Tijuca, por exemplo, liga quatro regiões da cidade: Zona Norte, Zona Sul, Centro e Zona Oeste. Um dos caminhos mais usados pelo tráfico está no Conjunto de Favelas do Lins, na Zona Norte.
“Subimos estruturados. Cada um tinha sua barraca de camping e depois começou a subir aqueles fogõezinhos de duas bocas, com bujãozinho pequeno. E assim foi dando pra ficar e o acampamento, se estruturando. Quando foi ver, estava dando até para morar na mata”, disse o traficante André Luis Santos Reis, em depoimento à polícia, após ser capturado, em janeiro.
O criminoso atuava nas favelas do Lins. Em 2013, antes da ocupação policiais no complexo, André Luis e seus aliados utilizaram trilhas do morro para invadir a favela da Covanca, já na Zona Oeste, controlada por milicianos.
“Além de ser mais seguro, era um direito a mais de surpreender. Já chegava no alto. Não era igual tu chegar no baixo e ter que subir”, contou à polícia, antes de completar. “Na favela, vamos dizer assim, está inseguro. Dentro da mata, não. Camuflou, já era”.
“Dezenas, as vezes quase centenas de criminosos fazem verdadeiras marchas, levam mantimentos, pequenos botijões, fogões, repelentes de mosquito, rede para dormir. Toda uma estrutura montada, visando possibilitar que esses marginais possam passar vários dias, até mais de uma semana, nessas regiões”, disse o delegado Antenor Lopes Junior.
Para especialistas em segurança, criminosos mudaram suas estratégias por causa da ocupação policial nas favelas. “O aumento do uso das florestas se deu com certeza pela ocupação da UPP e aumento da cobertura da Polícia Militar. A polícia de proximidade fez com que os criminosos mudassem a sua dinâmica”, explicou o especialista Paulo Storani.

Ex-militares migram para o tráfico
Para andar nas matas, o tráfico também começou a recrutar ex-militares, que têm conhecimento sobre como se movimentar em matas. “Nós já prendemos diversos ex-militares de todas as Forças Armas. Exército, Aeronáutica, Marinha, paraquedistas, fuzileiros navais. Todos seduzidos pelo poder do narcotráfico”, explicou Antenor.

Apesar da Polícia Civil afirmar que traficantes passaram a utilizar matas para facilitar suas ações, a Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento, afirmou que o deslocamento de criminosos por estas trilhas não é comum.

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