Traficantes
se especializam em matas nas Forças Armadas, diz delegado.
Para
criminoso, favelas estão inseguras: 'Na mata, camuflou já era'.
A polícia do
Rio enfrenta um novo desafio para combater o tráfico de drogas na cidade, como
mostrou. Traficantes passaram a se esconder em matas próximas de favelas e
chegam até a montar acampamentos. O objetivo é fugir das ações policiais para
não serem capturados. As trilhas pela mata também são estratégicas para
traficantes invadirem outras comunidades e transportarem drogas.
O novo
recurso das facções criminosas tem a ver com a geografia da cidade. O maciço da
Floresta da Tijuca, por exemplo, liga quatro regiões da cidade: Zona Norte,
Zona Sul, Centro e Zona Oeste. Um dos caminhos mais usados pelo tráfico está no
Conjunto de Favelas do Lins, na Zona Norte.
“Subimos
estruturados. Cada um tinha sua barraca de camping e depois começou a subir
aqueles fogõezinhos de duas bocas, com bujãozinho pequeno. E assim foi dando
pra ficar e o acampamento, se estruturando. Quando foi ver, estava dando até
para morar na mata”, disse o traficante André Luis Santos Reis, em depoimento à
polícia, após ser capturado, em janeiro.
O criminoso
atuava nas favelas do Lins. Em 2013, antes da ocupação policiais no complexo,
André Luis e seus aliados utilizaram trilhas do morro para invadir a favela da
Covanca, já na Zona Oeste, controlada por milicianos.
“Além de ser
mais seguro, era um direito a mais de surpreender. Já chegava no alto. Não era
igual tu chegar no baixo e ter que subir”, contou à polícia, antes de
completar. “Na favela, vamos dizer assim, está inseguro. Dentro da mata, não.
Camuflou, já era”.
“Dezenas, as
vezes quase centenas de criminosos fazem verdadeiras marchas, levam mantimentos,
pequenos botijões, fogões, repelentes de mosquito, rede para dormir. Toda uma
estrutura montada, visando possibilitar que esses marginais possam passar
vários dias, até mais de uma semana, nessas regiões”, disse o delegado Antenor
Lopes Junior.
Para
especialistas em segurança, criminosos mudaram suas estratégias por causa da
ocupação policial nas favelas. “O aumento do uso das florestas se deu com
certeza pela ocupação da UPP e aumento da cobertura da Polícia Militar. A
polícia de proximidade fez com que os criminosos mudassem a sua dinâmica”,
explicou o especialista Paulo Storani.
Ex-militares
migram para o tráfico
Para andar
nas matas, o tráfico também começou a recrutar ex-militares, que têm
conhecimento sobre como se movimentar em matas. “Nós já prendemos diversos
ex-militares de todas as Forças Armas. Exército, Aeronáutica, Marinha,
paraquedistas, fuzileiros navais. Todos seduzidos pelo poder do narcotráfico”,
explicou Antenor.
Apesar da
Polícia Civil afirmar que traficantes passaram a utilizar matas para facilitar
suas ações, a Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento, afirmou que o
deslocamento de criminosos por estas trilhas não é comum.
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